sexta-feira, 24 de agosto de 2012

À Espera

Vivemos em constante espera... Esperamos que os anos passem e nos tornemos mais sábios, mais responsáveis e adultos. O hoje nunca parece mais saboroso que o amanhã. O futuro tem aquele gosto agridoce, cheio de expectativa e novas chances.
À espera vemos os minutos tornarem-se horas; as horas, dias; os dias, meses; os meses, anos... E ao fim desse ciclo interminável vemos que a vida passou, extinguiu-se. Ficaram apenas as marcas de nossos pés na terra batida.
À espera de que algo libertador aconteça, acabamos deixando de lado as coisas que mais importam: as palavras que deveriam ter sido ditas, as atitudes que deveriam ter sido tomadas, silêncios não preenchidos, o toque que não aconteceu e aquele beijo que não existiu.
Vivemos à espera de mudanças drásticas, de libertação ao nosso marasmo cotidiano... À espera de que a vida valha a pena, mas a vida sempre vale à pena, se vivida de maneira gratificadora.
Estamos à espera do que? De que o mundo volte a girar? De que as horas passem e os dias sigam? 

E no fim...


O pé-de-guaco no jardim deu flores... Havia anos que não nos agraciava com as flores primaveris e com o aroma acolhedor. Parecia que previa, que desejava prestar sua última homenagem àquele que o apresentou. O chá de guaco, porém, não possui o mesmo sabor... 
As bananeiras e os cafezais há muito já não produzem ou florescem. Perderam o viço e definham à um canto do jardim. As rapaduras não possuem mais o mesmo sabor adocicado que marcou a infância perdida. Tudo perdeu a graça e simplicidade... Definhou e acabou. 
Todo o início de história possui um ponto final. Toda vida deverá um dia terminar. Toda pessoa humana irá encontrar-se no fim de um túnel de onde não se pode mais sair, onde apenas haverá uma luz a lhes guiar, deixando saudades aos que permanecem, muitas vezes, também a espera da aproximação de seu ponto final, em meio as tantas vírgulas que aparecem no caminho. 
A saudade é a certeza de que passaram entre nós. As lembranças permanecem em cada canto da memória e da casa da infância. A cada segundo ecoa o som da tosse seca, da voz rouca, do cheiro de guaco e cafezal. 
Passaram como dois guias, como os chefes de duas família distintas. Da minha família. 

RIP Vô Antonio e Vô João